Pesquisadores da UFSC propõem soluções para crise sanitária e ambiental no litoral ao Ministério do Meio Ambiente

Sistemas modulares de biorremediação com algas podem se tornar uma solução para a crise sanitária e ambiental no litoral brasileiro

Sistemas modulares de biorremediação com algas podem se tornar uma solução para a crise sanitária e ambiental no litoral brasileiro, avalia o professor Paulo Horta, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em conjunto com o Programa Ecoando Sustentabilidade, a Rede de Organizações Não Governamentais da Mata Atlântica, o Laboratório de Virologia Aplicada da UFSC e o Labomar da Universidade Federal do Ceará, ele assinou uma carta à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sugerindo, além da implantação dos sistemas, a criação de um comitê para gerenciamento da crise – que, somente em Florianópolis, resultou em praias sem balneabilidade e epidemia de diarreia.

O professor explica que esses sistemas são diversificados e que a própria UFSC já os estuda. Pelo menos duas técnicas têm bons resultados em países como Espanha e Estados Unidos: os tapetes de algas filtrantes e a produção de algas em tanques. Ambos absorvem contaminantes, produzem oxigênio e substâncias químicas que ajudam no controle biológico e químico da água. “Sistemas modulares podem ser instalados rapidamente e contribuem com o aumento da saúde dos ecossistemas costeiros”, aponta Horta. Além disso, a biomassa produzida por esses sistemas pode ter diferentes usos, aumentando a sustentabilidade e viabilidade econômica das iniciativas.

Em 2021, uma equipe de pesquisadores da UFSC publicou o artigo A new model of Algal Turf Scrubber for bioremediation and biomass production using seaweed aquaculture principles e traz resultados promissores a partir de um experimento com a espécie Ulva ohnoi. Em menor escala, o sistema foi considerado bem sucedido e resultou em produção de biomassa de boa qualidade, com remoção eficiente de nutrientes, justificando sua aplicação em maior escala.

A alternativa de tratamento com algas é recomendada como uma solução baseada na própria natureza, o que poderia resultar também, nos próximos anos, na redução das emissões de gases do efeito estufa, podendo colocar Santa Catarina em posição de destaque nesse tema, gerando créditos de carbono. Estima-se que ações como essa têm um potencial de produção de biomassa que resultaria na imobilização global de 30 bilhões a 4,13 trilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, mitigando emissões também pelo fato de evitarem a poluição em ambientes costeiros.

Carta alerta para crise e menciona Florianópolis como preocupação

Na carta, os pesquisadores apontam “grande preocupação com a crise sanitária e Ambiental vivida no litoral Brasileiro”, sugerindo um comitê de crise que possa atender à emergência sanitária, de saúde e socioambiental instalada, permitindo um diagnóstico e a adoção de medidas de remediação regionalizados. “Este diagnóstico deverá identificar agentes causadores de surtos e epidemias, produzindo relatórios que auxiliem na tomada de decisão das instituições e setores envolvidos”, completa o documento enviado à ministra.

O cenário catarinense é apresentado como um exemplo da crise vivenciada nas regiões litorâneas e, de acordo com o documento, “demanda participação urgente dos órgãos federais”. A carta alerta que apenas na cidade de Florianópolis já são mais de 1500 casos de diarreia em crianças e adultos, atingindo o status de epidemia.

“Essa epidemia pode estar correlacionada com o fato de que, das 237 praias analisadas no estado, 124 estão impróprias para banho”, assinalam. O grupo aponta que o cenário é resultado das carências históricas de saneamento básico e aponta a poluição crônica e o aumento e intensidade de eventos climáticos extremos como questões que também impactam na saúde coletiva. “Se começarmos a agir localmente, mas pensando globalmente, podemos gerar movimentos que venham a contribuir com o saneamento básico, mas também com a mitigação das mudanças climáticas”, afirma Horta.

Amanda Miranda, Jornalista da Agecom/UFSC

Fonte: Notícias da UFSC

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