Mudanças podem aprimorar o monitoramento da qualidade da água em rios de SP

Entre outras ações, os pesquisadores recomendam monitoramento em áreas de reduzido impacto humano, permitindo comparação que indique estado atual de degradação desses cursos d'água

Texto: Júlio Bernardes
Arte: Carolina Borin Garcia

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Foto: Jornal da USP

Na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, pesquisadores avaliaram pontos de monitoramento da qualidade da água nos rios do Estado de São Paulo. O trabalho aponta que, apesar da rede ter uma densidade relativamente elevada, a distribuição dos pontos é desigual, muito concentrada na parte mais populosa do Estado. O estudo sugere, entre outras medidas, implantar o monitoramento em áreas de reduzido impacto humano, permitindo uma comparação que indique o atual estado de degradação dos rios, além da criação de metas progressivas para melhoria da qualidade da água.

“A pesquisa teve dois objetivos principais. O primeiro foi apresentar subsídios para o aperfeiçoamento da rede de monitoramento da qualidade da água de rios de São Paulo, quanto à localização de pontos, frequência e parâmetros”, afirma ao Jornal da USP o engenheiro Ricardo Gabriel Bandeira de Almeida, autor da pesquisa, apresentada como tese de doutorado na EESC. “O segundo era estimar concentrações de referência para alguns parâmetros de qualidade da água, como possível critério de enquadramento de rios classe especial na área de estudo. A rede estudada é a da Agência Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), cuja operação foi iniciada em 1974.”

Na rede básica da Cetesb, o monitoramento era bimestral até o final de 2019, quando passou a ser trimestral. “Os parâmetros monitorados podem variar em função do uso e ocupação do solo, tipologia industrial ou devido à necessidade de acompanhamento de algum evento excepcional, como vazamento de resíduos perigosos”, diz o engenheiro. “No entanto, em mais de 70% da rede, cerca de 40 parâmetros – físicos, químicos, hidrobiológicos, microbiológicos e ecotoxicológicos – são determinados, com destaque para os que integram o Índice de Qualidade das Águas (IQA) da Cetesb: concentração da bactéria Escherichia coli, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrogênio total, fósforo total, turbidez, sólidos totais, temperatura da água e oxigênio dissolvido.”

De acordo com Almeida, existem cerca de 450 pontos monitorados distribuídos em 22 unidades de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHIs), com uma densidade média de monitoramento de 1,9 ponto/1.000km², superior à recomendada pela Agência Europeia de Meio Ambiente, que é de 1,0 ponto/1.000km². “Apesar da densidade relativamente elevada, a distribuição no Estado é desigual, com concentração de pontos na porção leste, mais populosa”, aponta. “Nos últimos anos, o monitoramento automático tem ganho espaço no Estado, com 16 pontos abrangendo oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica, temperatura e turbidez. No Estado, há também a Rede Nacional de Qualidade da Água (RNQA), sob responsabilidade da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e operada pela Cetesb, que tem proporcionado maior segurança orçamentária para o monitoramento da qualidade da água.”

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No mapa da esquerda, as Unidades de Gerenciamento de Recursos hídricos (UGRHI) analisadas na pesquisa; o mapa da direita mostra os pontos de monitoramento na UGRHI Alto Tietê – Imagem: Reprodução

Pontos de monitoramento

“A pesquisa avaliou a redundância de pontos de monitoramento quanto aos parâmetros do IQA, aos objetivos de monitoramento e à representatividade espacial, levando-se em conta uso e ocupação do solo, precipitação e tipos de solo em sete UGRHIs representantes de diferentes usos: agrícola, áreas artificiais, vegetação campestre e vegetação florestal”, descreve o engenheiro. “No aspecto temporal, foi avaliada se a redução da frequência poderia manter um grau similar de informação ao obtido com a estratégia de monitoramento estudada, que foi a bimestral. Também foi verificado se alguns parâmetros poderiam ser excluídos por apresentarem reduzida variância dos dados e pequena proporção de registros que extrapolam os limites legais.”

Para aprimorar o monitoramento, Almeida sugere uma definição clara dos objetivos a serem atendidos em cada ponto, revisão periódica de sua distribuição, frequência e parâmetros, e adoção de estratégias flexíveis, que considerem as características naturais e da atividade humana de cada UGRHI. “Também é recomendada a publicação das metodologias utilizadas para o planejamento e revisão da rede. Isso possibilitará uma análise crítica dos diversos setores da sociedade e um processo de melhoria contínua das metodologias empregadas”, enfatiza. “Por fim, seria interessante expandir o monitoramento em áreas de reduzido impacto humano, para avaliar o atual estado de degradação dos rios e estabelecer metas progressivas para melhoria da qualidade da água, além de rever os limites de alguns parâmetros.”

Nas UGRHIs avaliadas, as sugestões da pesquisa são a desativação de pontos de monitoramento redundantes e expansão da rede para áreas pouco representadas pelos pontos existentes. “Seria necessário um incremento do número de pontos que atendam ao objetivo de estabelecimento de condições de referência, no caso, de mínimo distúrbio humano”, observa Almeida. “Ao mesmo tempo, poderiam ser adotadas frequências de monitoramento flexíveis nas UGRHIs, em algumas seria semestral, em outras bimestral, para manter um grau similar de informação, e a redução de alguns parâmetros nas sete UGRHIs estudadas por apresentarem reduzida variação espacial e temporal.”

Embora o trabalho não tenha sido apresentado formalmente à Cetesb, as conclusões sobre adequação especial e frequência do monitoramento foram repassadas ao órgão.

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A pesquisa teve autoria de Ricardo Gabriel Bandeira de Almeida, do Serviço Geológico do Brasil, sob orientação do professor Davi Gasparini Fernandes Cunha, da EESC. Também contribuíram diretamente com o trabalho Marta Condé Lamparelli, da Cetesb, e o professor Walter Kennedy Dodds, da Kansas State University, nos Estados Unidos.

Mais informações: e-mail rgbalmeida@gmail.com, com Ricardo Gabriel Bandeira de Almeida

 

Fonte: Jornal da USP

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