Muitas vezes, temos o péssimo hábito de não nos atentarmos aos detalhes da vida, seja nas pequenas coisas do dia-a-dia, nos nossos relacionamentos pessoais e profissionais, nos processos que operamos e/ou gerenciamos, nas correlações que diversos fatores têm entre si para entregar o que podemos ver, sentir e tocar.
Fonte da imagem: Segue Viagem
O livro “10% humano”, da doutora em biologia Alanna Collen traz uma perspectiva um tanto quanto perturbadora para muitos que nunca pararam para pensar a respeito do seguinte:
Para cada célula humana em nosso organismo, há outras nove impostoras, pegando carona. Você não é formado apenas de carne e osso, sangue e músculo, mas também de bactérias e fungos – 300 trilhões delas. Não é um indivíduo, mas uma colônia – um ecossistema. Somos apenas 10% humanos.
Se isso é certo para a construção do nosso próprio corpo, se nós mesmos somos um ecossistema inteiro, como isso poderia ser diferente no mundo “lá fora”?
A microbiologia está intrinsecamente ligada à vida de tantas formas que os cientistas ainda precisam descobrir, mas já se sabe muito para entendermos que, sem essa forma de vida minúscula, microscópica, nenhum sistema pode proliferar saudavelmente.
Estão presentes no solo, transformando o nitrogênio e disponibilizando-o para as raízes de árvores e plantações, os fungos fazem uma verdadeira rede de comunicação invisível no solo entre si e entre as raízes de árvores, responsáveis inclusive pela transmissão de “dados” sobre perigos e necessidades das suas conexões. Recomendo a leitura do livro “A vida secreta das árvores”, do engenheiro florestal Peter Wohlleben, para entender mais sobre esse fenômeno.
Igualmente no saneamento, podemos ficar doentes tomando uma água cristalina, mas com proliferação excessiva de bactérias patogênicas que não conseguimos ver. As bactérias, ainda, são as principais responsáveis pelo tratamento do esgoto, quando optado por um sistema de rota biológica para tal finalidade. Elas transformam compostos poluentes em moléculas simples com menor carga poluidora, como no ciclo do nitrogênio, acumulam fósforo que poderia ajudar a causar eutrofização em meios hídricos, degradam a matéria orgânica que pode contaminar a fauna e as pessoas em contato com essa água.
Aos germofóbicos, um lembrete: nem todo mundo é 100% ruim ou 100% bom, e isso vale também para as milhares, milhões e trilhões de vidas microscópicas que existem em nosso entorno – e dentro de nós – e são essenciais para a vida em si ocorrer.
Escrito por: Iuli Theisen Andersen da Silva Escalante
Engenheira Química especialista em Microbiologia de lodos ativados, mestranda em Engenharia Civil com linha de pesquisa em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, consultora em operação e gestão de estações de tratamento de esgoto e água. Entusiasta do aprendizado e do compartilhamento de conhecimento técnico-científico, atua na Companhia Águas de Joinville e é Diretora Técnica de Microbiologia no Instituto Técnico Água Segura.
Siga o ITAS – Instituto Técnico Água Segura para receber conteúdos técnicos relacionados ao Saneamento Básico.
Leia também: A importância da pesquisa no saneamento