Quando o greenwashing atinge as águas e mostra lado sujo que “parece verde”

O Greenwashing não é somente Marketing mentiroso (ou "Marketing Pilantrópico” para alguns), mas é também o ato de gerar informações distorcidas, e quem atua na área de Saneamento já viu isso inúmeras vezes.
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O Greenwashing não é somente Marketing mentiroso (ou “Marketing Pilantrópico” para alguns), mas é também o ato de gerar informações distorcidas, e quem atua na área de Saneamento já viu isso inúmeras vezes.

A origem do termo Greenwashing

O termo, até o momento, foi introduzido no vocabulário ambientalista por Jay Westervelt, ativista norte-americano. No texto, ele criticava um hotel que ficou durante uma viagem para Samoa, que apelava para a consciência ecológica dos hóspedes, pedindo que evitassem trocar as toalhas com frequência, sob a alegação de que isso aumentaria a conta de água. Além de apresentarem resultados negativos no meio ambiente, os donos do estabelecimento seriam os maiores beneficiados, uma vez que reduziriam os custos. A hipocrisia apavora o ambientalista.

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O Saneamento Industrial e o Greenwashing

Várias corporações fazem publicidades mostrando comprometimento, pois lançam efluentes que atendam padrões de qualidades específicos, quando na verdade são os próprios limites determinados pelas leis existentes no local de descarte para o corpo receptor, fazem isso na verdade pois na maioria dos casos, as empresas são obrigadas a tratá-los antes de lançarem, como prevê a resolução Conama nº 357. Há também legislações, como por exemplo o decreto nº 6.514, que determinam que as empresas são responsáveis pelos danos ambientais que geram, logo lançar no corpo receptor efluentes com baixas concentrações de contaminantes não é um favor que essas corporações fazem, e sim uma obrigação.

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Porém, muitas usam o atendimento da legislação que é uma obrigatoriedade, como marketing, isto é, fazem a maquiagem verde, e vendem a ideia de que vão além do que precisavam pois amam o meio ambiente e são comprometidas com a sustentabilidade. Como a maioria das pessoas não sabem os limites permitidos para lançamento nos corpos receptores e nem procuram se informar, acabam comprando a ideia vendida pelos canais de publicidade, quando na verdade deveriam entender que amar o meio ambiente é ter atitudes que o protejam, é ir além, é pensar nas gerações futuras.

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Não é só em temas como emissões para a atmosfera ou produção de compostos que geram resíduos perigosos ou que demoram anos para se decomporem que podemos ver claramente as ações de Greenwashing, mas nas águas e mananciais elas também são bem comuns.

Outro exemplo muito comum de Greenwashing no saneamento, é o Marketing focado na redução da quantidade de efluentes gerados nos processos industriais e na diminuição dos volumes de água utilizados nas limpezas dos maquinários. Porém, essas empresas não informam que junto com as reduções irão gerar águas residuais mais sujas. Os volumes de água de fato serão menores, mas os efluentes gerados serão muito mais nocivos, já que terão altas concentrações de produtos químicos e de contaminantes, uma vez que essas empresas não tiveram o cuidado de melhorar seus processos de tratamento dos efluentes, ou seja, optaram por fazerem uma liberação muito mais nociva para os corpos receptores, com demanda química excessiva de oxigênio, alto teores de sólidos suspensos e de outros compostos poluentes.

Quando corporações agem dessa forma, elas praticam a troca oculta, pois querem de certa forma despistar as pessoas, fazendo com que olham para um lado, enquanto ações obscuras acontecem em outras partes das produções e processos.

Uma atitude que seria louvável por exemplo, seria adotar como limite de lançamento padrões bem mais inferiores dos colocados como limites das legislações vigentes no local, isto é, se em determinado lugar é possível lançar efluentes com DBO até 60 ppm, por que essas empresas não vão além e adotam tratamentos que garantam DBO final menor que 30 ppm por exemplo? Poderiam fazer o mesmo para os compostos nitrogenados ou para as concentrações de produtos químicos. Se fizessem isso, seriam visionárias também, pois em vários lugares do Brasil e do mundo, já há padrões bem mais restritivos, para DBO por exemplo, já é comum cidades com limites de lançamento de DBO menor que 5 ppm.
Assim, quando alguma empresa falar que é exemplo pois tratam os efluentes gerados, devemos responder que cumprir legislação é obrigação, sobretudo quando o descumprimento pode gerar multas altíssimas, e até o fechamento dos estabelecimentos poluidores. Só porque um produto ou um serviço se apresentam como “melhores” para o meio ambiente, e as publicidades são feitas com o uso de muitas fotos da natureza, nem sempre significa que esses produtos são melhores.

Empresas do Setor de Saneamento e o Greenwashing

O Brasil será um importante destino de investimentos nos próximos anos, tendo em vista a meta de universalização dos serviços de água e esgoto, que está prevista no marco legal aprovado em 2020. A agenda de saneamento é indispensável para qualquer tipo de desenvolvimento. A ampliação da concorrência deveria estimular a eficiência e aperfeiçoar a qualidade e o alcance dos serviços prestados à população. A competição, no entanto, pode incentivar a geração de lucros, mas, em regiões de difícil acesso, com uma população reduzida ou em regiões que requerem projetos mais estruturados, o retorno financeiro pode ser desfavorável. Além disso, é bastante comum que a população desenvolva menos instrução e se desespere em compreender quando a água potável ou o esgoto são adequados. A falta de um bom conhecimento dos mananciais dessas regiões e a defasagem técnica das equipes dos departamentos de Proposta e Comercial das empresas vencedoras das licitações podem resultar em projetos técnicos simplistas, que não sejam eficientes tanto para as ETAs quanto para as ETEs. Se não houver uma fiscalização aprofundada, as companhias e concessionárias de saneamento podem adotar práticas arcaicas e defasadas, o que pode ter consequências adversas em termos de gestão de governança, risco ambiental e climático.

A luta contra o Greenwashing é uma responsabilidade coletiva dos poderes públicos e da sociedade.

A preocupação com os resultados alcançados nas metas da ODS 6 é de suma importância e deve se estender a outros setores que estão intimamente relacionados aos valores ESG e que possam ter um impacto positivo nos processos de saneamento, fornecendo melhorias ambientais e sociais, e não apenas “maquiem a realidade de verde”.

Sendo assim, é crucial que as pessoas tomem cautela ao discernir as entregas de efetividade, eficácia e resultados da agenda de saneamento das práticas de gestão adequadas à realidade do setor.

Como consumidores, devemos estar atentos às manobras adotadas por algumas companhias, uma vez que o meio ambiente carece de nossa contribuição e é de nossa responsabilidade inibir a prática de práticas prejudiciais à natureza. É um dever de todos cobrar uma maior fiscalização das entidades e órgãos responsáveis.

 
Por:
Daiane Porto
Especialista em Saneamento/Fundadora e Presidente do ITAS – Instituto Água Segura /ESG/Membra do Catalyst 2030

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