Estudo mostra crescimento de superbactérias em importante rio de Minas Gerais

Após tragédia de Brumadinho, a lama dos rejeitos minerais provocou a proliferação de micróbios resistentes nas águas do Paraopeba

Após tragédia de Brumadinho, a lama dos rejeitos minerais provocou a proliferação de micróbios resistentes nas águas do Paraopeba

Por Sidney Rodrigues Coutinho

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Trecho do rio Paraopeba em Minas Gerais contaminado por rejeitos | Foto: Diego Baravelli (Creative Commmons)

 

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com outras universidades brasileiras, analisaram as águas do Rio Paraopeba, em Minas Gerais, e descobriram mudanças na diversidade microbiana que levaram algumas bactérias a aumentar a resistência a antibióticos.  As coletas foram realizadas ao longo de 464 quilômetros, em oito locais diferentes de amostragem, entre fevereiro e maio de 2019, período subsequente ao desastre ecológico de Brumadinho. Em janeiro de 2019, com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, da empresa mineradora Vale, foram lançados cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeito no meio ambiente.

O acidente foi responsável pela morte de 272 pessoas, três das quais ainda desaparecidas. Ele é considerado o segundo maior desastre ambiental do Brasil, ficando atrás apenas do rompimento da barragem da mina de Fundão, da Samarco, em Mariana, ocorrido em 2015.

As análises mostraram mudanças na diversidade microbiana imediatamente após o desastre, com a presença de bactérias indicadoras de metais (Acinetobacter, Bacillus, Novosphingobium Sediminibacterium). A identificação de isolados bacterianos também revelou possível contaminação fecal (Cloacibacterium, Bacteroides, Feaecalibacterium, Bifidobacterium, Citrobacter, Enterobacter, Enterococcus e Escherichia) em todo o Paraopeba.

O estudo destaca que a área impactada pelo desastre criou “pontos de proliferação de micróbios resistentes a antibióticos, que representam sérios riscos em potencial para a saúde humana”. Moeda, Brumadinho, Igarapé, Juatuba, Varginha, Angueretá, Retiro Baixo e Três Marias foram os oito locais de amostragem.

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)  contribuíram com o trabalho, que foi aceito para publicação na revista científica Science of the Total Environment.

De acordo com o professor Fabiano Thompson, do Instituto de Biologia da UFRJ, o estudo avaliou a diversidade microbiana na água do Rio Paraopeba antes e depois da chegada da lama. “Os resultados do estudo indicam aumento de bactérias resistentes ao ferro, aumento de superbactérias e aumento de indicadores de contaminação fecal. A lama não é inerte e parece ter induzido mudanças na diversidade, com, por exemplo, aumento desses micróbios resistentes. Ainda não foram realizadas pesquisas sobre a presença de superbactérias nas populações do entorno”, afirmou.

Para Thompson, uma das hipóteses para a proliferação de micróbios de forma exponencial após o desastre tem relação com a quantidade de nutrientes trazidos pelo desastre e que promovem o crescimento microbiano na água do rio.

Fonte: Conexão UFRJ

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