Especialistas apontam caminhos para a busca da universalização do saneamento no Brasil
Não basta apenas discutir a questão das perdas de água. É preciso que todos os elos da cadeia do saneamento dialoguem e se unam para modernizar o setor empregando novas tecnologias de forma a prestar melhor atendimento à população para que a água tratada e de qualidade chegue àqueles que ainda sofrem com a sua falta. Essa foi uma das principais conclusões das reuniões estratégicas coordenadas por Hélio Samora, CEO da SmartAcqua Solutions, durante a 9ª edição do Smart City Business Brazil Congress 2022, evento que reuniu empresas, startups, especialistas e representantes do poder público para discutir alternativas sustentáveis para construção de cidades inteligentes, realizado no período de 24 a 26 de maio na capital paulista.
O objetivo dos encontros que abordaram especificamente o saneamento, coordenados por Samora e que contaram com a participação de representantes de agências reguladoras, prestadores de serviços, concessionárias públicas e privadas, consultores e fornecedores de soluções tecnológicas, foi analisar o status quo do setor e como o emprego de tecnologias de Inteligência Artificial (IA) e a Internet das Coisas (IoT), entre outras, pode contribuir para reduzir as perdas de água que são um dos maiores problemas não só no Brasil, como no mundo todo. Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) alertam que mais de 70% das populações das grandes cidades viverão em áreas de escassez hídrica nos próximos anos. No Chile, a estimativa é que serão 12 anos de escassez, e no caso do Brasil, serão dez anos.
Enéas Ripoli, CTO da SmartAcqua Solutions, destacou que, no nosso país, se as perdas de 40% (SNIS – IN049) em média fossem reduzidas para 25%, conforme estipula o novo marco regulatório do setor, mais de 40 milhões de pessoas teriam acesso à água e haveria uma recuperação de R$ 12 bilhões ao ano em recursos, os quais, de um jeito ou de outro “vão pelo ralo” todos os dias e de longa data, e que poderiam ser aplicados na melhoria dos serviços prestados pelas empresas de saneamento nos respectivos municípios.
Solução SmartAcqua
A Solução SmartAcqua, detalhada em apresentações durante o evento, pode auxiliar as empresas de saneamento nesse sentido porque mostra as ineficiências no sistema de distribuição de água em que estão ocorrendo as perdas. Segundo Ripoli, uma companhia de saneamento é uma fábrica a céu aberto e o combate às perdas deve ser feito no dia a dia, de forma contínua, porque um vazamento que foi consertado pode ocorrer novamente dias depois. Por isso é necessário um monitoramento constante. “A Solução SmartAcqua possibilita fazer esse controle porque engloba tecnologia da informação e o know-how de 25 anos na execução de projetos de combate às perdas de água, utilizando algoritmos de Inteligência Artificial para detectar as perdas na rede de abastecimento e nos pontos de consumo. O sistema se retroalimenta e com isso permite ações mais assertivas das equipes operacionais”, justificou o CTO.
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Novos aprendizados
A capital do Acre é uma das cidades que está enfrentando esse problema, segundo o prefeito Sebastião Bocalom, que participou de uma das reuniões a convite de Hélio Samora. O maior desafio da sua gestão será reduzir as perdas em Rio Branco que são da ordem de 64% e levar a água para os locais mais distantes que atualmente ainda contam com abastecimento apenas uma vez por semana. “Até o final do meu mandato pretendo oferecer água de qualidade, que é fundamental para a saúde, a um preço razoável especialmente para atender à população mais pobre e que mora em regiões mais distantes”. Bocalom contou que a prefeitura investiu R$ 60 milhões de recursos próprios no saneamento e tem como meta mudar a matriz de produção de água que é de rio, porque há grande potencial de água de subsolo. Atualmente, 92% da população da cidade é abastecida com água e apenas 12% tem coleta de esgoto.
Entraves
Os debates levantaram também outros problemas que geralmente são apontados por grande parte das empresas de saneamento e que impedem a adoção de tecnologias. Um deles é a falta de recursos financeiros. Samora argumentou que ao combater as perdas de água essas empresas obtêm os recursos que necessitam. “Isso porque de fato o dinheiro já está nas companhias de saneamento, mas é desperdiçado nas submedições, fraudes, vazamentos e demais irregularidades que ocorrem no dia a dia dessas empresas e que se fossem identificados e corrigidos de forma adequada permitiriam levar a água tratada a mais pessoas, gerando ao mesmo tempo uma redução substancial de custos e aumento da receita que poderia ser direcionada para melhorar os serviços e para a aquisição de tecnologias”, justifica.
Outra opção viável sugerida nos debates são os contratos de performance, pois a empresa de saneamento apenas disponibiliza suas perdas de água para que empresas prestadoras de serviços, com seus investimentos e tecnologia, se remunerem com os resultados e benefícios na prática. O argumento contrário alegado é que essas iniciativas solucionam apenas parte dos problemas e, portanto, acabam não sendo consideradas. Outro entrave são as barreiras jurídicas que fazem as empresas, especialmente as do setor público, perderem tempo e brecam projetos de inovação. Essas companhias enfrentam ainda outro problema que é a falta de capacitação dos profissionais para trabalhar com tecnologias como a IoT. Vale destacar que atualmente é feita uma leitura por mês, enquanto com o uso de sensores e outros equipamentos inteligentes podem ser feitas leituras várias vezes ao dia, o que amplia substancialmente a quantidade de informações geradas, requerendo a capacitação das pessoas para analisar esses dados com emprego de outras soluções como as de Inteligência Artificial.
Ponto Importante
Outro ponto importante levantado durante as reuniões estratégicas referiu-se à necessidade de as agências reguladoras passarem a cobrar maior eficiência das empresas públicas e privadas de saneamento, utilizando esses critérios para determinar os valores das tarifas cobradas sobre os serviços prestados e não mais sobre seus custos como ocorre atualmente. Houve o consenso de que é importante o prestador ter maior consciência sobre seu papel no saneamento, cabendo às agências reguladoras maior rigor na análise das informações fornecidas por essas companhias, tendo o poder inclusive de frear reajustes tarifários de acordo com a ineficiência dessas empresas.
Não foram poupadas críticas à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) no que se refere à orientação sobre os limites de atuação das agências reguladoras, pois com o novo marco o setor passa a contar com um arcabouço legal, mas que na prática ainda não funciona. Uma questão importante é que o novo marco permite ampliar o tempo de concessão dos prestadores para 10, 15 e 35 anos, o que possibilitará a essas empresas investirem em tecnologias para serem mais eficientes pois terão um prazo maior para realizar os serviços e implementar novos projetos. O desafio será dar essa visão de longo prazo aos prestadores públicos.
“Ninguém faz nada sozinho. É preciso que as prestadoras de serviços se unam às agências reguladoras e às fornecedoras de soluções para que juntas encontrem o caminho viável para melhorar o saneamento”, destacou Samora. Na avaliação de Enéas Ripoli, o importante é começar a fazer a mudança de paradigmas, sem querer fazer tudo de uma vez. “É possível dividir os problemas em blocos e trabalhar um por vez, o que já servirá de exemplo para outras cidades do país”, concluiu.
Fonte: Silvia Giurlani – Assessora de imprensa da SmartAcqua Solutions