Desafios emergentes do tratamento de água

É bastante relatado na literatura que os processos convencionais de tratamento de água (ETAs) não são eficientes para a eliminação de determinados contaminantes orgânicos,

Artigo | Letícia Reggiane de Carvalho Costa, doutoranda em Engenharia Química, apresenta elementos sobre a relação entre recursos hídricos, descarte de lixo e saúde pública

*Por Letícia Reggiane de Carvalho Costa
*Foto: Flávio Dutra/Arquivo JU 29 jun. 2020 – Arroio canalizado no bairro Jardim Itu, em Porto Alegre

É bastante relatado na literatura que os processos convencionais de tratamento de água (ETAs) não são eficientes para a eliminação de determinados contaminantes orgânicos, devido principalmente à natureza polar de muitos deles (Ngigi et al., 2020). Alguns trabalhos, inclusive, evidenciam que a remoção desses interferentes emergentes depende tanto das características intrínsecas de cada composto quanto dos métodos de tratamento empregados (Anh et al., 2021Fonseca et al., 2020Kovalakova et al., 2020).

Como primeira grande preocupação das ETAs, tem-se que a operação ineficiente de algumas estações de tratamento de esgoto (ETEs) pode acarretar a presença de contaminantes no efluente final. Esses efluentes, posteriormente, são lançados nos corpos d’água e acabam comprometendo os mananciais de abastecimento e prejudicando o tratamento da água tratada distribuída à população (Petrie et al., 2015). Outro grande problema enfrentado nas ETAs é a potencialização da formação de subprodutos provenientes dos métodos de desinfecção, como orgânicos halogenados e trihalometanos, que podem ser consideravelmente mais tóxicos que as moléculas originais (Jeong et al., 2015Richardson et al., 1999).

Fator muito discutido no mundo inteiro, a presença de novas substâncias contaminantes na água, como os per- e poli-fluoroalquil (PFAs), tem crescido gradualmente. Os PFAs são substâncias incorporadas em vários produtos industriais e de consumo (por exemplo, embalagens de alimentos e utensílios de cozinha, papel, têxteis, couros, colchões, semicondutores e materiais de combate a incêndio) desde a década de 1940 (CDC, 2016Mueller and Yingling, 2017). Entretanto, devido à sua prevalência, mobilidade, persistência, bioacumulação e efeitos adversos à saúde (Buck et al., 2011; Moody et al., 2003Naile et al., 2010), foi demonstrado que muitos PFAs podem se ligar a proteínas do sangue e apresentam meia-vida longa em humanos. Ainda, tem-se que a exposição humana a essas substâncias esteja ligada diretamente ao câncer, à obesidade, ao colesterol elevado, à supressão imunológica e à desregulação endócrina (Braun et al., 2016Gounaris et al., 1993).

Dessa forma, os produtos químicos antropogênicos emergentes estão desafiando os tratamentos de água e esgotos, a recuperação de águas, a remediação de locais e o descarte de lixiviados em aterros, devido à falta de informação acerca dos efeitos desses contaminantes e de integração de tecnologias de tratamento eficazes, eficientes e práticas. Outro fator preocupante é o custo de investimento necessário para a implementação de tecnologias eficientes, bem como para o monitoramento dessas substâncias nas matrizes aquosas. Paralelamente a isso, há uma tremenda pressão, derivada potencialmente das determinações regulatórias.

Considerando todos esses fatores, através das minhas pesquisas de mestrado e doutorado, vinculadas ao Laboratório de Separação e Operações Unitárias (LASOP) do Departamento de Engenharia Química da UFRGS e, atualmente, com a realização do intercâmbio promovido pelo programa do CAPES-PRINT, venho desenvolvendo estudos para o tratamento desses contaminantes persistentes com aplicação de técnicas de adsorção e processos oxidativos avançados como ozonização, ultrassom e radiação ultravioleta. O objetivo principal é avaliar a potencialidade de remoção desses poluentes pelas técnicas desenvolvidas, a fim de promover a inclusão dessas tecnologias nos processos convencionais de tratamento, minimizando os desafios emergentes.

A expectativa, nesse cenário, é associar o conhecimento científico às empresas de tratamento, antecedendo-se aos processos regulatórios e, com isso, melhorando a qualidade da água tratada, que contribuirá para a minimização dos problemas operacionais e de saúde relacionados ao consumo e ao tratamento decorrente da presença desses compostos nos corpos hídricos.


Letícia Reggiane de Carvalho Costa é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Engenharia Química e atua no Laboratório de Separação e Operações Unitárias (LASOP) sob a orientação da Professora Dr.ª Liliana Amaral Féris. Atualmente, por meio da sua pesquisa, está realizando doutorado sanduíche na Universidade de Nevada, na cidade de Reno, NV, Estados Unidos, sob orientação do Professor Dr. Krishna Pagilla, no Laboratório do Instituto de Inovação de Água de Nevada.

Fonte: UFRGS

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