Contaminantes emergentes são detectados em 12 rios da Bacia PCJ

Em dois anos de pesquisas, foram investigados 38 poluentes nas águas de bacia hidrográfica

Em dois anos de pesquisas, foram investigados 38 poluentes nas águas de bacia hidrográfica

 
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A professora Cassiana Montagner, orientadora da pesquisa, durante coleta em rio da região de Campinas (Foto: Divulgação)

Autoria Tote Nunes 

Edição de imagem  Paulo Cavalheri

As águas dos rios da Bacia PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), em grande parte localizada na região de Campinas, estão poluídas pela presença de contaminantes emergentes – que são compostos per-e e polifluoroalquilados (PFAs), utilizados em muitos produtos, tais como antiaderentes, surfactantes, pesticidas, entre outros. Esses contaminantes não são removidos ou eliminados pelos processos tradicionais de tratamento de água para consumo humano. 

De acordo com dados do pesquisador Raphael D´Anna Acayaba, em tese apresentada à Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp no final de 2022, os níveis de alguns desses contaminantes encontrados nos rios da Bacia do PCJ já são superiores aos limites máximos que garantiriam a proteção do ecossistema aquático. A tese foi orientada pela professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp.

Pouco conhecidos e estudados no Brasil, os PFAS, presentes em mais de 4 mil compostos, são encontrados em materiais como a espuma de extintores de incêndio, colchões, estofados, carpetes, embalagens de fast-food e produtos revestidos com antiaderentes, tais como panelas e frigideiras. A contaminação por esse tipo de material pode, a longo prazo, provocar severos danos à saúde humana, inclusive câncer, alerta Acayaba.

“No Brasil, não temos muitos estudos sobre isso, mas nos EUA, por exemplo, os dados apontam que cerca de 95% dos adolescentes e adultos apresentam algum nível de contaminação por PFAS”, diz o pesquisador, que chamou a atenção também para os riscos que esses produtos representam para o meio ambiente.

As águas superficiais, que compõem as principais fontes de abastecimento, são poluídas por PFAS por meio da produção, uso e descarte de produtos contaminados, seja no meio industrial ou doméstico. Além disso, segundo o pesquisador, as tecnologias tradicionais, usadas pelas estações de tratamento de esgoto e pelos aterros sanitários, não são suficientes para sua completa remoção.  

Durante dois anos, a pesquisa de doutorado de Acayaba analisou amostras de água de 12 rios da Bacia PCJ e investigou a presença de 38 contaminantes emergentes. Com uma amostragem ampla, avaliou as condições de rios como o Atibaia — em pontos de Campinas, Paulínia e Jaguariúna —, além dos rios Capivari, Jaguari, Jundiaí, Piracicaba, Atibainha, Cachoeira, Camanducaia, Corumbataí e Pirapitingui. Em Campinas, foram avaliadas, ainda, amostras dos ribeirões Anhumas e Pinheiros.

A situação mais preocupante foi identificada no rio Jundiaí. Dos oito PFAS estudados, seis foram quantificados em concentrações que variaram de dois nanogramas por litro (2 ng L-1) a 14 ng L-1. O limite preconizado pela legislação de índices considerados toleráveis por agências ambientais australianas varia de 1,7 a 5 ng L-1. No Rio Pirapitingui, um dos ácidos, o perfluoropentanóico, atingiu o nível de 50 ng L-1, mas foi o único encontrado naquele curso d’água.

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As águas do Rio Atibaia foram analisadas na pesquisa: quociente de risco muito acima do limite (Foto: Antonio Scarpinetti)

No estudo da Bacia PCJ, em seis das 14 amostras analisadas, foram identificados valores de PFAS acima da concentração limite.  A avaliação para a vida aquática apresentou quocientes de risco (QR) entre 8,7 e 20,9, sendo o rio Piracicaba o ponto mais preocupante.
“Considerando a quase inexistência de dados de ocorrência de contaminação por PFAs no Brasil e a ausência de legislação referente a valores máximos permitidos, cria-se um cenário de incertezas tanto para a qualidade dos corpos d’água para a proteção da biota como para a garantia da saúde pública”, diz o pesquisador.

“A avaliação de risco mostrou que, apesar de as concentrações quantificadas nos trabalhos publicados serem da faixa de poucos nanogramas por litro, já são superiores aos limites máximos que garantiriam a proteção do ecossistema”, acrescentou ele.
A bacia PCJ possui uma área de drenagem de pouco mais de 14 mil km², onde vivem aproximadamente 5,5 milhões de pessoas, em mais de 70 municípios. Nesta região, há atividades econômicas que vão desde agropecuária e sucroalcooleira até indústrias, como a petroquímica e têxtil, além de polos de alta tecnologia.

De acordo com os pesquisadores, o trabalho é uma espécie de alerta para a situação dos rios da região. Segundo eles, a bacia do PCJ encontra-se em situação vulnerável e não atende pré-requisitos importantes da ONU para garantia da qualidade das águas e de um ambiente seguro para a vida aquática.

“Já está na hora de lançarmos um olhar para esses compostos, que acabam não sendo incluídos nos programas de monitoramento de rotina, mas que também estão provocando danos à biota”, disse Cassiana Montagner, referindo-se ao impacto causado ao conjunto de seres vivos, flora e fauna de determinado ambiente geológico.
De acordo com a professora, no Brasil, praticamente não há estudos de contaminação por PFAS nos corpos aquáticos — uma discussão que, segundo ela, já está consolidada em países desenvolvidos. “Eles estão avançados na forma de entender a contaminação e nas ações para minimizar seus danos. O Brasil, ao contrário, sequer sabe o quanto a gente tem de contaminação”, acrescenta a professora.

 

Pesticidas

Os pesquisadores encontraram, ainda, altas concentrações de pesticidas, assim como de fármacos, nas águas dos rios da região. Entre os pesticidas, os mais frequentes foram Atrazina, Diuron, Ametrina e Imidacloprido. Todos apresentam coeficientes com grande risco para a vida aquática.

Dos 15 pesticidas que compuseram a avaliação de risco, sete obtiveram valores superiores a dez. Para a Atrazina e Diuron, o valor foi 63, enquanto para Ametrina e Imidacloprido os valores foram superiores a 100. Valores de QR acima de um indicam que a concentração determinada do contaminante apresenta risco para a biota aquática.

A Atrazina, utilizada sobretudo para o controle de pragas na agricultura, está presente em todas as amostras coletadas, chegando a registrar níveis 500 vezes superiores aos critérios estabelecidos pela literatura científica para a proteção da vida aquática. No Rio Atibaia, por exemplo, o quociente de risco chegou a 92. No Ribeirão Pinheiros, atingiu 50,3, e no Anhumas, 40,5.

O Diuron — que é usado no controle de ervas daninhas em plantações de algodão, café e cana — também aparece em níveis altos nos ribeirões Pinheiros e Anhumas.

A Ametrina e o Imidacloprido são usados no controle de pragas nas folhas de cana de açúcar, mas o segundo é usado também nas culturas de batata, cebola, citros, feijão e tomate. A aplicação desse pesticida se dá muitas vezes nas folhas e no solo.

Fonte: Jornal da UNICAMP

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