Os autores de um novo relatório, dizem que atingir as metas climáticas depende muito de melhores decisões para gerenciar os já escassos recursos hídricos. Escolhas políticas desinformadas, podem colocar em risco o abastecimento de água doce e inviabilizar a ação climática.
Nova pesquisa apresentada na COP27, mostra que a água é muito mais importante na mitigação das mudanças climáticas do que se acreditava anteriormente. Uma melhor gestão da água, é fundamental para enfrentar as atuais crises alimentares e energéticas, ambas exacerbadas pelas mudanças climáticas.
O relatório intitulado: “The essential drop to reach Net-Zero: Unpacking Freshwater’s Role in Climate Change Mitigation”, lançado em 9 de novembro de 2022 na COP27 em Sharm El-Sheikh (Egito), é o primeiro resumo da atual pesquisa sobre o papel da água na mitigação climática. Uma mensagem-chave é a necessidade de compreender melhor a escassez global de água para planejar metas climáticas que não saiam pela culatra no futuro. Se não for planejado com cuidado, os impactos negativos da ação climática sobre os recursos de água podem ameaçar a segurança hídrica e até aumentar os encargos futuros de adaptação e mitigação.
Se não for planejado com cuidado, os impactos negativos da ação climática sobre os recursos hídricos podem ameaçar a segurança hídrica e até aumentar os encargos futuros de adaptação e mitigação, de acordo com o novo relatório. Foto: Lars Johansson/Mostphotos
“A maioria das medidas necessárias para atingir as metas líquidas de carbono zero pode ter um grande impacto sobre os já escassos recursos de água em todo o mundo”, disse a Dra. Lan Wang Erlandsson, do Centro de Resiliência de Estocolmo da Universidade de Estocolmo (Suécia). “Com um melhor planejamento, esses riscos podem ser reduzidos ou evitados.”
A água deve ser integrada aos planos de mitigação das mudanças climáticas
O relatório descreve por que, onde e como a água deve ser integrada aos planos de mitigação das mudanças climáticas para evitar consequências inesperadas e erros políticos dispendiosos. Mesmo os esforços geralmente associados a ações climáticas positivas, como restauração florestal ou bioenergia, podem ter impactos negativos se o abastecimento de água não for considerado.
Feito corretamente, no entanto, soluções relacionadas à água e baseadas na natureza podem abordar tanto a crise climática quanto outros desafios, disse a Dra Malin Lundberg Ingemarsson, do Stockholm International Water Institute (SIWI).
“Identificamos riscos hídricos, mas também soluções vantajosas para todos que atualmente não são usadas em todo o seu potencial. Um exemplo é a restauração de florestas e áreas úmidas que trazem benefícios sociais, ecológicos e climáticos de uma só vez. Outro exemplo é que um melhor tratamento de efluentes pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa de efluentes não tratados, melhorando a qualidade das águas superficiais e subterrâneas e até mesmo fornecer energia renovável através do biogás”.
O relatório destaca cinco mensagens-chave sobre a interligação entre água e mitigação:
As medidas de mitigação climática dependem dos recursos de água. O planejamento e a ação de mitigação climática precisam levar em conta a disponibilidade atual e futura de água.
- Os impactos da água, tanto positivos quanto negativos, precisam ser avaliados e incluídos no planejamento e ação de mitigação climática.
- A gestão de água e saneamento pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Serviços mais eficientes de água potável e saneamento, economizam recursos preciosos de água e reduzem as emissões.
- As soluções baseadas na natureza para mitigar as mudanças climáticas podem oferecer vários benefícios para as pessoas e o meio ambiente. Medidas de proteção dos recursos hídricos, da biodiversidade e garantia de meios de subsistência resilientes, são cruciais.
- A governança conjunta da água e do clima precisa ser coordenada e fortalecida. A integração da água em todos os planos e ações de mitigação climática requer uma governança policêntrica e inclusiva.
“Os esforços de mitigação das mudanças climáticas não terão sucesso se não forem consideradas as necessidades hídricas”, disse Marianne Kjellén, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). “A água deve fazer parte de soluções poderosas para aumentar a resiliência do ecossistema, preservar a biodiversidade e sistemas regenerativos de produção de alimentos e energia. Em suma, a segurança hídrica precisa ser levada em consideração na ação climática”, acrescenta.
“Para enfrentar as crises climática, alimentar, naturais e energética, a disponibilidade de água é essencial. É urgente que o mundo concentre toda a atenção no duplo fato de que a água é o desafio número um para a adaptação climática devido a secas e enchentes, e um desafio-chave para a mitigação, pois não há futuro climático seguro bem abaixo de 2 graus Celsius sem um ciclo hidrológico funcional”, conclui o Professor Johan Rockström, do Instituto Potsdam sobre Pesquisa de Impacto Climático.
Organizações que cooperaram no relatório:
- Stockholm Resilience Centre
- Stockholm International Water Institute (SIWI)
- Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
- United Nations Development Programme: (UNDP)
Fonte: Gabinete de Comunicação / Stockholm University
Adaptado por Digital Water